quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Nós...

Sopramos nossos corpos em dias opostos
Dançamos ao som casual da gigante metrópole
Levantamos armas contra as tempestades do acaso
Batemos em retirada seguindo caminhos de terra e pedra
Ainda não encontramos os lagos cristalinos das nossas infâncias
Persistimos com nossas armas carregadas de lírios e poesias 
E nos atiramos frente as ondas do inesperado e inseguro
Sorrateira cai sobre nossas cabeças um céu negro coberto de estrelas
Repousamos sobre os nossos mais ingênuos sonhos de liberdade...

domingo, 28 de novembro de 2010

CIDADES INVISÍVEIS - ÚLTIMA APRESENTAÇÃO EM SP

Após o descanso de nossos olhares sobre as Cidades Invisíveis, eis que os portões do jardim de Magnólias se abrem novamente... 


domingo, 21 de novembro de 2010

Domingo

O que esperar de um domingo?
São dezesseis horas e quarenta e oito minutos
O friu da manhã me fez companhia na hora de acordar
Me lancei pra fora da cama e fui ao encontro dos Calvininos e Calvininas
De volta ao meu recanto fico disposto a surpresas, mas elas não vem
 
O sol arde durante a tarde e a brisa pede um blusa de lã
Vem caindo em cores um céu de maravilhas
Penso em sair, passear por ir, busco alguma peça em cartaz
Nada consegue me atrair...
 
O pensamento distante, distante do meu corpo, distante de mim.
Centralizo tudo outra vez e desfaz as fantasias de domingo.
Volto a pensar em não pensar...
 
Estranho... Já são desezeis horas e cinquenta e nove minutos
pensei em você, repensei sobre o fato de pensar em você
e constato que passei a tarde tentando fugir de pensar em você
E revela-se então pra mim que venho fugindo de não pensar em você
desdo dia em que te conheci...
Mas por razões outras tomei outros caminhos, penso então em fazer um novo pensamento
Organizar meus pensamentos e decido acertar as coisas feitas pelas metade e tomar um só pensamento
 
Dezessete horas e dez minutos...
penso novamente em você.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fui eu...

Fui eu, eu sei que foi somente eu
que briguei, chorei, apostei nesse amor sem fundamento.
Que lancei todas as minhas forças para ter esse par de olhos dourados,
esse corpo fresco e adocicado, esse pensamento de paixão...
Não mais do que eu fui despreparado, apressado na contra mão do seus passos,
nos destemperos de longas horas de observação e desejos sem fundamentos.
Fui eu, eu sei que foi somente eu
e mais ninguém que pediu por esse amor com sabor de leite derramado,
com gotas de encanto e beleza transbordante.
Socorro pai e mãe que esse amor não deu em nada...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sorrateiramente

Sorrateiramente teus olhos entraram no vazio
Tuas mão tomaram minha cintura
Teu corpo transpira sobre o meu
Teus dentes prendem os meus lábios,
mordem os meus ombros, fere minha alma.

Empolguei de mais
Transbordei pelos poros
Sorri pelas tardes
Sonhei desejos de verde
em ver coberto de grama meu corpo caido e exausto.

Com duas doses e meia de uisque
Cigarros queimando os dedos
Na infiel companhia de mim mesmo
Certifico então a minha solidão acompanhada
Sorri outra vez pra mim...

Agora enfim é o fim
Com o sangue misturado e alterado
Com as veias saltadas, as mãos desprendidas
Com o corpo molhado, os olhos secos
É o fim enfim. 

sábado, 9 de outubro de 2010

AS CIDADES INVISÍVEIS - NO MÊS DE OUTUBRO OS PORTÕES DO JARDIM SERÃO ABERTO



Finalmente depois de tanto se falar por entre os corredores dos jardins de Magnólias, o jardim poderá ser visitado por todos. 
Convido vocês a entrarem nesse jardim e descobrir as cidades que existem dentro de cada perfume de Magnólia...

Nos dias 15, 16 e 17 de Outubro às 19h - Teatro Adamastor Pimentas - Estrada do Caminho Velho, 333 - Pimentas Guarulhos/SP.

Nos dias 22 e 23 às 20h e dia 24 às 19h - Teatro Padre Bento - R. Francisco Foot, 3 - Jd. Tranquilidade Guarulhos/SP. 

E nos dia 31/10 e 07/11 às 19h os portões começarão a ser fechados no Teatro Adamastor Centro - Av. Monteiro Lobato, 734 - Macedo Guarulhos/SP

Acessem: http:projetocalvino.blogspot.com



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Marília

Confesso que gostaria de escrever um poema com as linhas que desenham a tua vida, mas a tinta e o papel não são apropriados. Queria desvendar a geometria confusa que constrói essa materialidade tão misteriosa, tão impetuosa e forte como uma tempestade de verão. Confesso que passo horas e mais horas a sombra das tuas formas bebendo o vinho do seu conhecimento.

Das verdades que eu trago na minha vida, das aventuras que eu me desprendi, das tempestades que sufoquei o meu medo, dos amores que eu entreguei minha alma, das confusas palavras que eu joguei aos ouvidos desconhecidos, da invisível matéria que edifica o meu corpo, das horas que eu inundei o meu corpo em desespero... Reencontrar com você é o momento imóvel que eu ainda não sei descrever. Talvez seja por isso que os poemas sejam insuficientes, que as palavras sejam fracas, que a construção do fantástico esteja suspensa aguardando a exatidão dos gestos para o desenrolar de uma encenação mais clara e simples. Agora me afasto dos olhos curiosos e embarco num jardim que me leva para um país repleto de Marilias. Hoje ainda vai desabar água.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O ENCONTRO DAS MAGNÓLIAS

“O poeta é um ser que lambe as palavras depois alucina” (Manoel de Barros)

“Manoel de Barros consegue atingir o fantástico em sua obra que me deixa alucinado e me faz perguntar: Porque lamber só palavras? Sejamos sinceros existe coisa melhor que lamber? A língua é dividida em três partes, para que nosso paladar possa distinguir os sabores. Então calvininos e calvininas vamos lamber as palavras e tudo mais que nos é posto diante da vida para quem sabe então nos alucinar”.

No dia 31/07/2010 foi realizado o terceiro encontro das magnólias, um encontro esperado não só por elas, mas também pelos cuidadosos jardineiros que as regam todos os sábados. Diante da expectativa desse encontro os jardineiros se debruçam durante horas e horas em minuciosos estudos, buscando encontrar a combinação certa dos adubos para o jardim, buscam encontrar a fonte da água mais límpida para regar as magnólias, tudo isso para que esse encontro possa ser o mais florido e perfumado.
É chegada então a hora de reunir num só jardim todas as magnólias, fazer com que elas floresçam como um primeiro raiar de sol, com que elas recebem não só o adubo e a água trazida pelos jardineiros, mas que elas realizem entre si a fotossíntese. É importantíssimo esse processo de fotossíntese para uma magnólia, saber receber de outra tudo aquilo de bom que ela possa te oferecer e retribuir. 
Agora retomando a minha respiração e com as expectativas controladas, tomo certo afastamento desse jardim, distancio o meu olhar e desloco meus pensamentos para o que estou vivendo naquele momento, apago qualquer resquício de prévio conhecimento dos calvininos e calvininas, passo uma borracha no que sei sobre o que foi preparado para aquele encontro e me delicio com as descobertas. 
O interessante é observar como os jardineiros caminham numa linha tênue entre o certo e o errado, digo isso, pois não se tem formulas prontas o que é usado sempre segue o inesperado. E nesse processo é construído um pensamento comum entre os jardineiros. (mas sobre essa construção e preparação do adubo e a busca da água pura que resultam na vivência, vou deixar para outro momento) 
O que me prende nesse texto é como as magnólias reagem a tudo que é exposto a elas, como essa vivência deixa de ser somente experimentada e transpassa o limite do lúdico e atinge o racional? Vejo que as magnólias estão mais abertas e dispostas, talvez seja o frescor da idade, fato é que elas brilham sem mesmo estarem postas ao sol. Existe muita energia dentro de cada uma e cada uma delas consegue receber e conceber de formas variaveis o que é derramado sobre elas. Existirá o aprofundamento? Não aquele onde os jardineiros direta ou indiretamente são responsaveis, questiono sobre o aprofundamento que cada uma das magnólias possam fazer sozinhas, um mergulho individual e coletivo, uma suspensão sobre o jardim e repensar sobre ele. Não é uma obrigação as suspensões, mas seria interssante poder ver as magnólias tomadas por um clima de desequilibrio fantástico. Mas afirmo que já não são somente sementinhas que encontramos a alguns meses atráz. 
Perdido nesse jardim de magnólias guardiãs de um imperador, invadido por embaixadores, esses seres se movem em direção ao desconhecido e tudo isso pode ser apenas uma passagem, um momento em que não se prende entre os abraços o corpo de nenhuma outra especie, mas fica impresso na pele tudo aquilo que nos é oferecido. E não há como negar que somos feitos da mesma matéria, estamos dispostos a nos arrircar. Magnólias, os jardineiros as convidam não só para o bom da vida e sim para tudo da vida. Não via nada, eram apenas magnólias... E agora como Marco Polo irá dançar entre elas? 

sábado, 18 de setembro de 2010

Eduarda chegou...

Meu amigo-irmão se tornou pai ontem
Minha amiga-filha é mãe
Ontem conheci a menina com rosto de joelho mais linda
Eu não sei o que escrever, como dizer a felicidade que sinto
É lindo ver a alegria nos olhos dos meus amores

Quando vi os olhinhos negros como a noite se abrirem para mim
Senti vontade de chorar...
Quando no meu colo esteve... Agora deslizam as lágrimas
Mando para o meu mais novo amor um eterno beijo
Já sinto saudades... que saudade gostosa

Papai, mamãe a Eduarda chegou...
E tudo começa agora, que seja então as melhores horas infinitas das nossas vidas... 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Feliz aniversário

parabéns alma incansável e relutante que me afaga num abraço sincero e aperta minha mão distraída no ônibus.


Que dentro de tu caiba um eu
Que esse eu possa se movimentar e dar beliscadinhas dentro desse tu
Que esse tu sinta mais forte que está sendo incomodado por um eu que lhe quer bem
Quero ser a perebinha que incomoda, que causa cócegas e que te faz sorrir
Quero manter teus abraços, teus olhares e teus paladares bem junto de mim
Quero sentir o calor e o pulsar do seu coração, quero ouvir tuas palavras e dentro delas dançar, dormir e me acalentar

Você me toca calmamente, me cativa desde o primeiro instante

Parabéns Ric, que você adquira grandes feitos dentro dos teus anseios, você me é muito especial e singular, gosto de ti imensamente (não havia como não gostar, você me encantou rs).

Menina dos olhos de ressaca.
(Postei, pois... não tenho explicações, apenas senti).

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Aos meus amigos

Aos meus amigos mando-lhes um beijo
na face ainda morna despertada pelo sol da manhã
Mando junto com o beijo todo aquele carinho secreto
aquele gosto de saudade misturado com amor

Aos meus amigos mando-lhes o brilho dos meus olhos
neles vão junto todo o meu muito obrigado pela amizade
Mando também um pouco da lembrança do último encontro
para que desperte neles vontade de me rever

Aos meus amigos mando-lhes o desejo de viver mais e mais
pois egoísta que sou os quero sempre existente na minha vida
mas se por ventura me faltarem, beijarei meu coração

Aos meus amigos mando-lhes um mundo suspenso no fantástico
e que nele possam me reconhecer eterno e apaixonado por eles
meus queridos sou louco de amores por vocês.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um ensaio honesto

Eu queria ser lido pelas pedras” (Manoel de Barros)

A qualidade de ser pedra sempre me deixou instigado, inquieto e curioso em descobrir o que abriga uma pedra. Esquecemos suas composições de minério, o que me interessa é sua poética. A poética existente em uma pedra ultrapassa a própria poesia incrustada na sua superfície, e digo isso devido a sua simplicidade, a forma em se apresentar diante dos nossos olhos.
Buscando um dialogo na qualidade de ser pedra e munido da minha descoberta de ser uma fraude fui ao encontro de um ensaio honesto. O mais engraçado é que levamos nas nossas cabeças uma pronta formalização de como podemos desenvolver o ensaio e de como seremos honesto com esse ensaio. A capacidade de mentirmos para nos mesmos.
Fato é que existe na cidade todo um sistema de comportamento que se basta por si, que se entende nos seus furtos e assim todos vivem sem nenhum incomodo. Até o surgimento de um homem honesto, isso é o suficiente para desestruturação de todo um sistema de comportamento dessa cidade. Pronto temos ai um resumo do espetáculo, partiremos agora para a poética da pedra e do homem honesto.
Assim como a pedra o homem honesto é firme no seu posicionamento em não deixar ser alterado pelo comportamento existente naquela cidade, e firme na sua decisão segue suas longas jornadas noite adentro fumando e vendo a água passar por debaixo da ponte. Só ai vejo os primeiros sinais de poesia, pois não ser alterado diante de tantos apelos exige firmeza de pedra, poesia de pedra. Homem honesto e pedra dispostos aos nossos olhos.
O que é se mostrar por inteiro? Revelar o que realmente se é diante dos olhos de toda uma cidade? Qual estado de inconsciência precisa se atingir para não burlar a si mesmo? Posto diante de uma sala fria e sem nenhuma vida me disparo ao encontro desse ensaio na busca de encontrar a melhor forma de me revelar. Ingênuo, antes mesmo de me atirar do precipício, já garanto a precisão da queda.
Quando depois de algumas tentativas de formalizar a apresentação do homem honesto, decido então não pensar mais em nada, tomo como regra apenas um roteiro do que tem que ser feito, aprofundo minha respiração, dilato ainda mais os espaços vazios da mente e do corpo, repito varias vezes o mesmo roteiro e cada vez mais desconecto qualquer formalização, no momento exato da apresentação, nem mesmo penso sobre formas e conceitos, apenas penso em não me auto programar para o próximo gesto, para o próximo pensamento. Finalmente repetindo mais e mais vezes, não consigo mais pensar sobre nada, nem mesmo sobre quando vai acabar. Quando desconecto totalmente de tudo consigo encontrar algumas formas, elaborar mais claro o conceito. Acaba, fim do ensaio. E lá estava a formalização de corpo honesto diante da cidade. Era mais simples que o sofrimento desperdiçado, tudo era uma questão de não racionalizar, bastávamos apenas verticalizar a minha descoberta em ser fraude e me mostrar sem medos o que realmente sou. Ai vem toda poética de ser pedra e não se deixar abalar por momentâneas rajadas de vento. Vem a poética existente em ser honesto.
Talvez seja isso que realmente nos faz falta, o não pensar sobre a forma durante a descoberta, o meu desespero em querer estar sempre pronto, em conseguir resolver uma cena em apenas um ensaio, fez com que eu me distancia-se do que era o mais simples: o não conceitualizar uma forma, antes mesmo de vivenciá-la.
O processo que está se desenvolvendo na Ovelha Negra segue da forma mais simples, conversas, risadas, olhares... Não se prendendo a grandes descobertas do teatro, nos prendemos as descobertas do humano, o ser humano com suas concepções, seus pensamentos, suas crises, suas virtudes e defeitos, como esses seres se portam diante da sua própria sociedade que por vezes é tão desconhecida por ela, mas que o influencia sem precedentes. Acredito ainda nos desenhos despretensiosos que o corpo propõem, do que num texto pré fabricado e cheio de verborragia inútil. Busco agora o desprendimento das palavra e encontras as linhas do meu corpo atuante contrário a essa sociedade tão acostumada com as automatizações.

Às vezes leio Manoel de Barros para atingir o esquecimento e quando me dou conta ilumina nas minhas veias poesia...

Julho/2010            

Um ensaio afastado

"O habito da escrita sempre foi algo inerente na minha existência, a poesia, subjetividade. O campo da arte foi onde minhas pernas aprenderam a ter firmeza, aprenderam a dar os primeiros passos rumo ao que era e ainda é desconhecido”.


Foi proposto a minha pessoa que escreve-se sobre o Projeto Calvino, as minhas observações e reflexões do trabalho que nos desafiamos a realizar. Foi me concedido o livre arbítrio de escrever da maneira que mais me conforta-se, que eu encontra-se procedimentos que fossem significativos as minhas reflexões a cerca do projeto. Diante do exposto propus a mim mesmo um ensaio afastado. Que mesmo submerso de todo conteúdo, toda a vivência que estou envolvido desde 2009, que eu me retira-se, desloca-se o meu olhar, que eu me suspende-se. Busco então uma tomada de distancia e refletir sobre o Projeto Calvino.
Antes de debruçar os meus pensamentos tenho duas perguntas a serem feitas: Porque a união dos grupos Teatro dos Orelhas e Teatro da Chuva nesse projeto? O que se afinam nesses dois coletivos de teatro para que juntos possam desenvolver um trabalho?   
Diante das duas perguntas penso no que seria mais plausível para justificalas? Qual aglomerado de palavras, quais construções de linguagens se aproximaria em respondê-las? Qual a forma se aproxima de nós? Buscando responder com outra pergunta. Confesso me encontrar sem respostas prontas.
Em uma das nossas reuniões pós vivência foi levantada a questão sobre de como iríamos aprofundar a qualidade de movimentos nos Calvininos (as). Quais seriam os procedimentos que pudessem afeta-los? A arte-educadora Débora expôs que uma das dificuldades encontradas por eles é o fato de nunca terem tido contato com o teatro, de que eles precisariam ter mais segurança e conhecimento no campo do teatro para poderem desenvolver os movimentos, que era preciso também mais confiança deles conosco. Sou partidário da mesma opinião que a Débora, a falta de contato com o teatro pode sim causar dificuldades em desenvolver supostas habilidades corpóreas, qualidade de movimento.  Mas logo salta uma pergunta: Se estamos propondo vivencias teatrais, aguardar um prévio “conhecimento teatral” não iria contra? Não estaríamos ai sendo contraditórios com o nosso discurso? Vejamos, lançamos que os Calvininos(as) são livres e estamos ali apenas para propor novas possibilidades de enxergar o que está ao seu redor, criamos procedimentos para que eles consigam alterar sua percepção, que eles sozinhos consigam ficar incomodados diante de um fato, com que eles consigam retirar esse fato do seu contexto atual e repensá-lo e ter uma outra possível percepção. Será que me fiz claro? Ou confundi a mim mesmo nesse último parágrafo. Este é resumo grosseiro da célula embrionária que rege o nosso projeto.  Durante a discussão o Luciano foi contra aos dizeres da Débora, afirmando que não devemos ter como critério a falta de experiência deles com o teatro, e que essa segurança não é base para desenvolver qualquer trabalho. Afirma isso dizendo que todos esses meninos e meninas vivem num tempo totalmente diferente do qual fomos criados. A era da tecnologia está quase que inserida no DNA deles, a capacidade de fazer mil coisas ao mesmo tempo os remete para outras concepções de mundo.
O Luciano afirmou ainda que seria capaz de jogar todo o seu conhecimento fora somente para compartilhar com eles esse tempo. Vou tentar ser um pouco mais claro sobre isso. Os meninos desse novo tempo são regidos pela rapidez, pela coisa momentânea os fatos acontecem todos ao mesmo tempo e eles conseguem se organizar sem problema nenhum. A pergunta então seria: Filhos do tempo da rapidez, de outra lógica social, seria usual impormos algum procedimento que nos serviu a mais dez anos atrás?

Nesse primeiro momento os conceitos ficam claros na mente, no campo imagético que esse conceito nos é permitido, porém existe uma dificuldade particular em transcrevê-los. As palavras nem sempre conseguem realmente expressar o que entendemos e o que buscamos com esse projeto. Imerso na tentativa de compreender o fantástico e conseguir reconhecê-lo é excitante. Excitante por estar diante de um desconhecido e sentir-se tão atraído. Eu só queria...

Julho/2010
            

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um poema pensando em você

Houve um tempo onde éramos simples
Os versos surgiam feito um orvalho
A boca guardava um tom avermelhado
E as mão sempre seguras com o tempo

Sob os feitos tortuosos de uma tempestade
Nos tornamos compostos de outras matérias
Os versos surgiam de uma violência despreparada
Em nossos lábios tomaram conta a palidez

Corremos, era só o que sabíamos fazer
Nossas pernas eram mais que desespero
As mãos foram desprendidas da nossa composição

Nos caminhos efêmeros que enredamos nossa massa corpórea
timidamente enxergamos a simplicidade outra vez, carregada pela leveza
Nos olhamos intacto... saltaremos ao encontro novamente?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Mariana um encontro eterno...

Mariana & Ricardo

É esse o mar que um dia deixei meu olhos se entregarem
O que fazer da vida agora diante do afogamento?
Lutar contra é bobagem 
Descobri que deixando o corpo relaxado eu conseguia sobreviver
Dei conta então da leveza que era mergulhar mais fundo
Veio então a segurança em prender-me nos seus abraços
As vezes retorno na beira do mar e de súbito tento buscar terra firme
A vem a hesitação e o medo de perder-me no verde da mata outra vez
Que bom rever você, posso me afogar mais uma vez?



terça-feira, 29 de junho de 2010

MANIFESTO MAT

MANIFESTO MAT
SÃO PAULO – ANO I Nº 01 – MAIO 2010

Na presente data está declarado o surgimento, o nascimento, a instauração do grupo MAT. Formado por três jovens aspirantes ao mundo da arte, jovens esses que dedicam suas vidas a música, as artes visuais e ao teatro, e se declinam sutilmente tudo isso para o mais humano dos seus fazeres a educação. EDUCAÇÃO? Não falemos isso por agora.

O MAT declara seus anseios, seus mais profundos desejos de arte e suas reações impessoais e compartilhadas. Declara que não leram e não irão ler os modernistas e nenhuma outra vanguarda que tenha subvertido, proposto alguma alteração no sistema artístico ou social. Pois senhores até mesmo as nossas vanguardas supostas salvações de nossas almas sedentas por alterações morais, corpóreas, mediúnicas se fossem preciso, nossas vanguardas estão nos decepcionando, vendendo suas almas aos mais baixos dos conchavos políticos. É vergonhoso ouvir o discurso de Geogerte Fadel em prol a uma arte igualitária e justa para todos e ver as discretas articulações subterrâneas para conseguir manter-se nos editas de fomento. Até mesmo vocês Folias caíram nas sutis articulações de boa convivência entre júris de bancadas de editais e grupos. É construída toda uma conspiração para manter-se na crista da onda. Questionamos também se não existem outras Cia de dança para ganhar a lei de Fomento do Estado de São Paulo, Cia de dança Teatro Mariana Muniz, Cia Corpos Nômades, Calendos... . Enfim o MAT encontra-se cansado e revoltado e abismado com consecutivas vitórias na Lei de Fomento. Por hora nem tocaremos na nossa querida Cooperativa de Teatro Paulista, está o pólo da concentração da boa convivência “teatral”

Por tal motivo digo, melhor clamo a vocês “classe artística” guarulhense, parem com essa pieguice de aplaudirem os grupos de teatro do centro de São Paulo, a união deles de artística nem mesmo o ideal. O MAT está cansado de ver grupos da cidade de Guarulhos a reproduzir cópias mal feitas de uma arte vendida ou uma arte supostamente inovadora cheia de descobertas já conhecida dos gregos. De baixar suas cabeças a nossa gestão cultural, para homens e mulheres supostamente bem intencionados com a arte e a cultura de Guarulhos, da promoção de grandes shows populares na fomentação de eleitores. Panis et Circense. Parem de vender as suas artes aos mais baixos dos preços, a conivência do emburrecimento humano.

O MAT está disposto a retalhar toda essa juventude que vive a espreita de um foco de luz, de uma ponta na novela das oito, contrato com a Rede Globo, com uma seção de fotos no castelo de Caras, com sua vida comentada nas revistas, jornais e programas a lá Nelson Rubéns. O MAT se revolta também com os seus companheiros de jornada que não almejam movimentar toda essa estrutura. O que se entende por arte? O que se quer da arte? Não seria melhor ficar em casa e fazer um curso de corte e costura, assim pesaria menos a nossa consciente em ter que te aceitar. Mas porra não tenho que te aceitar falsos moralistas de merda. Pra longe com seus cadernos e texto xerocados que ditam a regra de uma arte cheia de regras, ditados e preceitos que possam reger um desenvolvimento de arte. Onde está o seu questionamento? O seu poder de análise, contextualização e questionamentos? Onde estão as suas perguntas? Estamos cansado de tentar achar respostas prontas e bem feitas que resolvem a vida de todos, eu quero perguntas.

O MAT assumi-se acadêmicos da não verborragia, da escrita cansada e maltratada, da escrita perfeita, das teorias que resolvem todos os problemas do mundo. Poderemos sim revisitar algo que seja novo, algo que mesmo depois de ter sido todo esmiuçado se apresente novo. Para conseguir esse novo diante do velho, vamos propor um afastamento, uma observação de outro ângulo. O MAT não irá propor nada, talvez possa reproduzir para o seu tempo o tempo que não mais existe.

O primeiro ato em salvação dos próprios integrantes é a urgência em matar a arte que se consome, a arte vendida e mal paga pelos monopólios da sociedade, monopólio da “arte”. É preciso acabar com toda essa desvairada manifestação de “arte”, morte as novelas de Manoel Carlos, Agnaldo Silva,... Morte aos filmes dos salvadores norte americano, morte dos filmes brasileiros cheios de carnal, cheios de sorrisos, pertencemos ao Brasil e não a um país chamado carnaval, morte aos shows de humor barato, aos “espetáculos” vendidos pelo comercial, aos espetáculos cabeção, que não saem da cabeça de quem os fazem. Morte as músicas e suas frutas, morte a conspiração da indústria capitalista que massacra a massa. Morte as cores de pintores vendidos, as instalações fragilmente montadas na ancia de estruturar uma consciência. Declara-se a morte da arte qualquer nota.

Os jovens MAT’s assumem publicamente sua culpa diante dos fatos e atos cometidos em nome da arte, assume sua submissão, sua voz calada, suas brigas internas, sua conivência diante das atrocidades teatrais, musicais e visuais, seu desejo de salvar o mundo e pede perdão pelas vezes que obrigou alguém a ter sua arte como algo revelador. Reconhecem e se envergonham dos anos que passaram a sombra de modelos, a falta de questionamentos, a falta de provocações, em aceitarem tudo dizendo amém. Sua covardia.

Portados de mínima estruturação, munidos da ancia em fazer com que sua arte esteja viva em suas próprias veias, nós a senhorita Calixto, o senhor Gambini e o senhor Torelly, nos lançamos pra fora da arte, atiramos assim contra nosso próprio peito a bala de festim para quem sabe renasçamos filhos mais puros e legítimos da arte.

Afastamos-nos agora dessa estrutura artística e nos trancamos dentro de nos mesmos, nos observaremos, questionaremos, nos provocaremos, vamos até as últimas conseqüências para conseguir fazer com que dentro dessas veias corra somente arte. Fazer com que dentro dessa sociedade robotizada corra mais sangue do que óleo lubrificante em suas veias exaltadas. Retomo aqui um esclarecimento sobre nossa possível visita ao velho, ao nos afastarmos iremos buscar outra percepção. Sobre o velho que revisitaremos acredito que o mais apropriado para esse momento seja Ítalo Calvino. Leveza, talvez seja esse o primeiro ponto de partida para o MAT.

Esclarecemos que não iremos salvar o mundo e nem achar respostas para as questões sociais e tão pouco artísticas, faremos nossa arte dentro dessa cidade, dentro dessa célula viva, queremos perguntas. E nossa arte faremos apenas por que não sabemos fazer outra coisa. Não sabemos lidar com os números, com os gráficos, com os códigos penais, não sabemos organizar milimetricamente nada daquilo que destrói nossas almas, amputa nossos braços, aniquila nossa mente.

Agora antes de terminar isso que chamamos de primeiro manifesto MAT, pedimos desculpa em escrever todas essas bobagens. Pedimos que rasguem esse “manifesto”, ou qualquer outro tipo de material impresso que chegarem as suas mãos. Levem-nos a sério, não é nossa culpa em querer movimentar, é algo natural do ser humano em querer movimentar, em querer sair do estado vegetativo em que se colocado quando se nasce. O MAT em salvação ao si próprio declara que no momento em que vossas pessoas lerem este manifesto é o momento exato da nossa glória e derrota é o momento exato do nosso nascimento e nossa morte. Fazemos isso para a preservação de nossos ideais, de nossas lutas em não sermos corrompidos. Fato é que não partilhamos das mesmas opiniões, fato é que caminho ao lado contrário da sua dor, caminho ao lado contrário da sua alegria. É de conhecimento que somos feitos para a destruição alheia, o que é do outro causa a inveja, causa o despeito por não conseguir ser melhor, são raras as exceções de verdadeira felicidade com a conquista do próximo.

O MAT declara hoje mais tarde do que nunca o seu aparecimento e o seu desaparecimento, em nome da sobrevivência individual de cada um de nos a senhora Calixto, o senhor Gambini e o senhor Torelly é que deixamos aqui nossa caminhada incompleta. Em nome da minha verdade, em nome do meu teatro e da minha arte eu senhor Torelly afasto-me do movimento MAT e caminho assim para outra cidade a procura de árvores, magnólias, ovelhas, pessoas partidas ao meio, janelas com olhares e propostas para o próximo milênio. Cosme consegue me ouvir? Estica suas mãos e me erga pra junto da tua companhia, me deixa viver junto contigo e esperar pela minha senhorinha

E despedimo-nos aqui com a certeza que não vamos encontrar com você novamente e isso nos alivia. Nos salva da ignorância em admitirmos que não temos nada a dizer. Somos senhores covardes de nosso tempo e somos todos irmãos. 
Ricardo Torelly
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Começo a escrever esse texto sem saber o que quero dizer e pra quem quero dizer, do mesmo modo como acontece com minha arte. Confesso que a idéia de transformar isso num manifesto ainda me parece absurda, um tanto quanto bizarra, mas como comecei com questionamentos seria interessante que também achasse as respostas para eles algum dia. A grande questão é “para quê?”. Por que deveria fazer arte, por que deveria me preocupar com os outros, para que server a arte?. Para que fazemos arte? Cheguei a dizer a meus amigos que a arte é inútil, que não muda ninguém, e que se queriam ajudar alguém era melhor entrar em um curso de enfermagem. Disse isso sem acreditar realmente. Na realidade eu achava que acreditava no poder transformador da arte, achava que acreditava que existia sentido em ensinar arte. Mas toda certeza se mostrou frágil. Uma vez cheguei a dizer que minha vida valeria a pena se, por meio das minhas aulas, eu conseguisse mudar a vida de uma pessoa que fosse. Mas parei e pensei direito: “será que ficaria realmente feliz com isso?”. Na verdade agora acho que me odiaria se passasse minha vida querendo modificar e conscientizar as pessoas sem ter tempo para mim. Essa idéia me parece ridícula agora. Quem realmente seria feliz se passa a vida toda pelos outros sem olhar para ele mesmo? Meu discurso certamente era falso...


Passei muito tempo criticando artistas contemporâneos por fazerem arte somente para eles, essa arte sem sentido estético, somente conceitual, e que para entender o conceito é preciso estudar e saber toda a vida do autor. E agora me pergunto se isso não é o certo. Isso me parece egoísmo, e deve ser de fato, mas todos humanos são egoístas, e vivemos num tempo em que isso está muito evidente, e como dizem “a arte é o espelho da sociedade”.

Faço arte, pois é minha única forma de viver, é a única coisa que talvez eu saiba fazer, e ainda assim me parece sem sentido fazer arte dessa maneira. Não sei aonde quero chegar, acho que minha arte não atinge ninguém, ou atinge, mas não gera questão nenhuma, interesse nenhum. É como pessoas vendo uma novela, assistem sem se perguntar se é certo ou não. Mas penso também que isso é culpa dessa nossa “era multimídia”. Como posso exigir mais de alguém que sempre recebe informações sem ter tempo para refletir. O silêncio, símbolo de “olhar para dentro”, está cada vez mais sufocado. Não temos mais tempo para o silêncio, não podemos mais refletir sobre nada, as vezes até me acho estranho quando tenho vontade de ficar só! Precisamos correr, a sociedade vem logo atrás.

Não me lembro de muitas obras que posso dizer que mudaram minha vida completamente. As que chegaram mais perto foram as estátuas de Rodin, um livro do Rilke, uma música do Bach, e uma peça do Plínio Marcos. Mas porque essa arte me mudou? Provavelmente porque estava de coração aberto, sem pré-conceitos. Só foi possível porque tive vontade de me aproximar, sem medo, com todo meu ser. E quem hoje em dia tem essa vontade, se não o artista que executa uma música de Bach, ou uma peça do Plínio? Essa talvez seja minha maior discussão com meus amigos. Não sei se arte muda alguém que não faça arte. Não sei se o ato de assistir “Navalha na carne” muda alguém, mas sei que o ato de monta - lá com certeza muda alguém.

Não sei nem se executar uma música pode realmente mudar alguém. Creio que não. Hoje, executar músicas barrocas virou apenas uma experiência estética. E não que estética não seja importante, mas sem um conceito por traz da forma, considero que a forma seja pobre e vazia. Eis que me encontro negando quase todo tipo de arte. A arte que é estética, e a arte que é puro conceito. Tudo parece confuso para mim, não sei onde quero chegar, não sei aonde vou, mas sei que o simples fato de me perguntar sobre isso já me torna mais próximo da arte do que a maioria das pessoas.
Samuel Gambini
Um artista em descobrimento

domingo, 27 de junho de 2010

Piés Dani

Piés Dani

Estos son los pies que sostienen toda la delicadeza

¿Quién puede bailar entre las piedras
Deslizándose a través de los árboles
Corriendo entre el espacio ocupado por el aire

La delicadeza, nada más que un acto de bondad ...

sábado, 26 de junho de 2010

Habitar a Forma II

“Não me prenderei a nomenclaturas, a designações a cerca de tudo aquilo que pretensiosamente acredito conhecer. Farei aqui uma busca de aprofundamento no que realmente desvendei. As descobertas são preciosas e reveladoras, mas o destrinchar essas descobertas é o que nos guarda de melhor a vida.”


Observamos as formas que estão diante dos nossos olhos, nossa primeira análise de contemplação se restringe as suas questões estéticas, suas questões de enquadramento, simetria, ritmo, sua combinação de tempo, espaço e peso. Somos tomados por uma avalanche de sensações e prazer diante da combinação perfeita dos elementos que constrói uma forma. E o que habita essa forma?

Depois do gozo a respiração busca controlar todos os impulsos involuntários do corpo, ficamos dispostos a qualquer arrebatamento, tomamos de volta a organização dos pensamentos, daí concluímos se tudo o que vivemos foi bom ou se fizemos algo que possamos nos arrepender. E é nesse momento que nossas formas buscam o que as habitam. Toda a efervescência vivida diante do prazer sexual e artístico é posta a prova quando o habitante dessa forma exige sua presença diante das contemplações formais. O habitante exige então um aprofundamento sobre ele mesmo, uma pausa nesse quadro de informações, modelos, reproduções, deve-se investigar o que habita tudo isso e qual é sua profundidade.

Outro relato que uso de exemplo existe formas muito claras diante das inquietações humanas, formas de como percebemos o meio em que estamos inseridos e nossas ações individuas e coletivas e como elas podem reverberar nas diversas camadas. Notamos que conseguimos verbalizar todo um quadro de miséria e conseguimos até mesmo achar algumas saídas, criticamos todos os teóricos que enchem as prateleiras das livrarias com suas análises sobre o ser humano e suas relações, sobre isso... e sobre aquilo... e como poderia ser feito. Mas o que habita tudo isso? Porque nos destinamos as nos reservar em analisar o homem, a sociedade, as relações humanas e outras tantas coisas? O que habita dentro em mim que me move? O que habita dentro dessas formas tão estranhas?

O descobrimento de uma fraude


Ao chegarmos ao ponto que separa a forma e conteúdo (o que habita) nos deparamos com uma série de interrogações, com questionamentos sobre o que consiste o conteúdo de nossas formas. Buscamos a subjetividade e a poesia para justificar todo o conceito agurmentado a respeito do que habita nossas formas. Existe uma música que diz: “Filosofia é poesia o que dizia a minha avó/ Antes mal acompanhada do que só” (Erasmo Carlos e Roberto Carlos). Releio então a frase e observo que deixemos de lado toda a poesia de Carlos D. de Andrade, Manoel de Barros, as filosofias de Sartre e Nietzsche e tantos outros que habitaram suas formas. E disparo contra a mim mesmo as perguntas e um aprofundamento nas descobertas.

O descobrimento de uma fraude em si mesmo é torturante, não que você tenha sido todos esses anos uma mentira, algo enganoso para os outros, o ponto se encontra na revelação e aprofundamento. Como aprofundar uma fraude? A palavra fraude pode nesse momento da escrita parecer pesada e talvez nem mesmo a mais apropriada para dar forma ao que habita dentro de mim.

Fato é que a descoberta de entender que todos esses anos todas as inquietações enquanto homem não tenha passado do inconsciente coletivo, apropriação de uma idéia de inquietações que não são realmente minhas, que não são suas. O que me perturba enquanto homem é saber que não tenho uma perturbação própria. Mas existe essa perturbação? Existe um homem que não se deixo levar pelo inconsciente coletivo?

Senhores tenho uma revelação, ainda mesmo com toda essa escrita, essa verborragia, essa busca de tentar achar um aprofundamento no que habita as minhas formas eu não sei como seguir. Como seguir? Para onde ir? Meu texto ainda não está claro, minhas idéias ainda não estão organizadas... hoje paro por aqui esse texto. Vou ler Calvino, Manoel de Barros, ouvir Elis Regina...

Outra janela...

Na janela Ítalo Calvino


Hoje eu vi da janela um olhar
Uma expressão serena e suave
Olhava e não me reprimia, não contestava,
apenas observava toda aquela desorganização.

Homens tão fortes e tão mais fortes que eu
Tão brutos abruptos e desconexos da minha visão
Que já não procuro mais comparações, ou níveis de igualdade
Reconheço-me fraco entre eles, solto das suas convenções.

Mas me salva aquele olhar da janela
Resgata-me de mim mesmo o que eu não consigo desprender
Pra onde esse olhar quer me levar?

Sobrevôo um jardim de magnólias
o olhar me acompanha e não me confessa nada, mas é tudo tão claro, tão leve...
que não posso negar, agora observo tudo de cima de uma árvore.

Habitar a Forma

                                          

        Depois de alguns anos na tentativa de fazer isso que acreditamos ser teatro, hoje consigo observar com um pouco mais de sensibilidade, um pouco menos de pretensão. Terminei de ler sobre a Leveza, uma das seis propostas que Ítalo Calvino deixou para este milênio. O que consiste ser leve? Quais as junções de letras, palavras, frases, coesões e coerências, que conseguem ser leves? Onde se encontra o significado da leveza? Como extrair o peso de uma forma a ponto de se reconhecer a leveza na sua linha mais simples?
      
        A forma que se desenvolve pode ser a mais complexa e de incompreensível execução num primeiro momento, ou a mais singela e de fácil assimilação. Visto que a forma cria-se num campo simples, experimentam-se alguns exercícios, vivenciam-se alguns movimentos, cria-se uma consciência da sua estrutura óssea e muscular, entendimento de uma imagem corpórea. Uma seqüência de movimentos e pensamentos concretiza-se uma forma. Cria-se então o como habitar essa forma.

       Prematuramente munido sobre as concepções do que Calvino nos deixou a cerca do que é leveza, a cerca do que é fantástico e como esse fantástico é concebido na sua obra, das discussões do grupo o porquê escolhemos Calvino para desenvolvermos nossas aspirações artísticas e como tomar para a nossa contemporaneidade esse universo, das reflexões paralelas voltando para casa.                                                                                                                
                                                                                                                                                  
       Vejo então que habitar essa forma seja simplesmente alterar minhas percepções diante da minha cidade interior e exportar outra visão de tudo isso que damos o nome de modernidade, avanço tecnológico e perda da sensibilidade humana. Afastar meu corpo ainda pesado, distanciar minha visão, compreensão do fantástico diante de tudo aquilo que vejo, ouço, experimento e pratico.

       Divagações de um ser humano que busca não alcançar a insustentável existência. As formas podem ser tangíveis, poéticas, sensitivas, alteradas, reorganizadas,... . Habitá-las seja simplesmente alterar todo o processo cognitivo que vem sendo imposto há milênios. Fantástico é poder saber que posso ser uma ovelha negra.

Impulso

Ovelha Negra

"Tudo aquilo que você queria fazer e nunca te deixaram..."

Começam os ensaios, orientações, contextualização, discussões e vamos à prática, aquecer corpo, mente e voz. Méééé...., Méméméééé...., pára tudo! O que é mesmo que eu tenho que fazer agora? Tudo bem vamos lá. Mas pode fazer isso? Tem certeza? Cenicamente vai funcionar? Eu sempre ouvi dizer que..., e olha que eu faço mesmo e depois não há santo que me tire da cabeça essa ideia.
Seguimos em frente, experimentações, novas discussões, palpites, nossa como tudo isso se encaixa. Sou eu ou somos nós que somos contrários do mundo?
Nossa como a Dani é forte! Quase joguei a toalha. Mais ensaios, mais risasdas, gargalhadas descontroladas, observações a cena, foco na encenação. Precisa despojar mais, é tudo aquilo que você sempre quiz fazer e nunca te deixaram. (eu vou poder cantar? Não se de feliz por ter um solo de dança. Solo? Dança? Dani....) Ainda com a cabeça um pouco em maresia, quase recuperado de tudo aquilo que é capaz de confundir o espirito humano... MÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ..............

Fechado, até o próximo sábado então.

Mas um presente...

Nas camadas mais instrínsecas e brilhantes dos teus olhos eu vou mais fundo.
Eu preciso me encontrar dentro de ti, façamos uma troca, vou deixar a porta aberta pra você entrar. Mas não se perca nem se iluda pelas cores, vá pelos sons, pelas texturas, pelos odores, acredito que ao chegar no oco haverá uma luz branca que irá te acalentar, confie nela, ela é o meu âmago. Um beijo

(outro mimo da menina com olhos de ressaca)

Menino dos olhos de mel

Menino dos olhos de mel
Me suga para o fundo da alma, adocica os meus dias
Me faz salivar uma sensação gostosa,ao pensar que ainda posso ter a sua presença comigo
Não saias nunca dos meus pensamentos e das minhas lembranças,
teus olhos, como janelas, me fazem ver além do necessário
Quero manter esses meus sorrisos e trocá-los com você.

(ganhei da menina de olhos de ressaca)