quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Marília

Confesso que gostaria de escrever um poema com as linhas que desenham a tua vida, mas a tinta e o papel não são apropriados. Queria desvendar a geometria confusa que constrói essa materialidade tão misteriosa, tão impetuosa e forte como uma tempestade de verão. Confesso que passo horas e mais horas a sombra das tuas formas bebendo o vinho do seu conhecimento.

Das verdades que eu trago na minha vida, das aventuras que eu me desprendi, das tempestades que sufoquei o meu medo, dos amores que eu entreguei minha alma, das confusas palavras que eu joguei aos ouvidos desconhecidos, da invisível matéria que edifica o meu corpo, das horas que eu inundei o meu corpo em desespero... Reencontrar com você é o momento imóvel que eu ainda não sei descrever. Talvez seja por isso que os poemas sejam insuficientes, que as palavras sejam fracas, que a construção do fantástico esteja suspensa aguardando a exatidão dos gestos para o desenrolar de uma encenação mais clara e simples. Agora me afasto dos olhos curiosos e embarco num jardim que me leva para um país repleto de Marilias. Hoje ainda vai desabar água.

Um comentário:

  1. Querido Ric,
    Confesso que me desvendou em palavras como num silêncio clandestino. E eu gosto deste silencioso estar aqui e do ímpeto que me leva para lá.

    É um silêncio que se cumpre e não se cumpre. Uma mistura de ser e não ser. De não se saber definitivamente o que se é.

    Foi inevitável, no final de tuas lindas palavras embarquei no jardim que me levou para um país repleto de Marílias. Por instantes fiquei a me procurar... e passei horas tentando me desvendar... em tempo percebi que eu tinha criado asas... asas que eu finjo não ver, mas que eu preciso saber que as tenho. No jardim de Marílias eu voei com minhas asas e só foi possível o meu vôo por causa de ti.

    Obrigada!

    És para mim Ric, um amigo. Desses que agente eterniza por guardar dentro.

    Aqui as lágrimas desabaram...
    Beijo doce,
    Marília.

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