terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sorrateiramente

Sorrateiramente teus olhos entraram no vazio
Tuas mão tomaram minha cintura
Teu corpo transpira sobre o meu
Teus dentes prendem os meus lábios,
mordem os meus ombros, fere minha alma.

Empolguei de mais
Transbordei pelos poros
Sorri pelas tardes
Sonhei desejos de verde
em ver coberto de grama meu corpo caido e exausto.

Com duas doses e meia de uisque
Cigarros queimando os dedos
Na infiel companhia de mim mesmo
Certifico então a minha solidão acompanhada
Sorri outra vez pra mim...

Agora enfim é o fim
Com o sangue misturado e alterado
Com as veias saltadas, as mãos desprendidas
Com o corpo molhado, os olhos secos
É o fim enfim. 

sábado, 9 de outubro de 2010

AS CIDADES INVISÍVEIS - NO MÊS DE OUTUBRO OS PORTÕES DO JARDIM SERÃO ABERTO



Finalmente depois de tanto se falar por entre os corredores dos jardins de Magnólias, o jardim poderá ser visitado por todos. 
Convido vocês a entrarem nesse jardim e descobrir as cidades que existem dentro de cada perfume de Magnólia...

Nos dias 15, 16 e 17 de Outubro às 19h - Teatro Adamastor Pimentas - Estrada do Caminho Velho, 333 - Pimentas Guarulhos/SP.

Nos dias 22 e 23 às 20h e dia 24 às 19h - Teatro Padre Bento - R. Francisco Foot, 3 - Jd. Tranquilidade Guarulhos/SP. 

E nos dia 31/10 e 07/11 às 19h os portões começarão a ser fechados no Teatro Adamastor Centro - Av. Monteiro Lobato, 734 - Macedo Guarulhos/SP

Acessem: http:projetocalvino.blogspot.com



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Marília

Confesso que gostaria de escrever um poema com as linhas que desenham a tua vida, mas a tinta e o papel não são apropriados. Queria desvendar a geometria confusa que constrói essa materialidade tão misteriosa, tão impetuosa e forte como uma tempestade de verão. Confesso que passo horas e mais horas a sombra das tuas formas bebendo o vinho do seu conhecimento.

Das verdades que eu trago na minha vida, das aventuras que eu me desprendi, das tempestades que sufoquei o meu medo, dos amores que eu entreguei minha alma, das confusas palavras que eu joguei aos ouvidos desconhecidos, da invisível matéria que edifica o meu corpo, das horas que eu inundei o meu corpo em desespero... Reencontrar com você é o momento imóvel que eu ainda não sei descrever. Talvez seja por isso que os poemas sejam insuficientes, que as palavras sejam fracas, que a construção do fantástico esteja suspensa aguardando a exatidão dos gestos para o desenrolar de uma encenação mais clara e simples. Agora me afasto dos olhos curiosos e embarco num jardim que me leva para um país repleto de Marilias. Hoje ainda vai desabar água.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O ENCONTRO DAS MAGNÓLIAS

“O poeta é um ser que lambe as palavras depois alucina” (Manoel de Barros)

“Manoel de Barros consegue atingir o fantástico em sua obra que me deixa alucinado e me faz perguntar: Porque lamber só palavras? Sejamos sinceros existe coisa melhor que lamber? A língua é dividida em três partes, para que nosso paladar possa distinguir os sabores. Então calvininos e calvininas vamos lamber as palavras e tudo mais que nos é posto diante da vida para quem sabe então nos alucinar”.

No dia 31/07/2010 foi realizado o terceiro encontro das magnólias, um encontro esperado não só por elas, mas também pelos cuidadosos jardineiros que as regam todos os sábados. Diante da expectativa desse encontro os jardineiros se debruçam durante horas e horas em minuciosos estudos, buscando encontrar a combinação certa dos adubos para o jardim, buscam encontrar a fonte da água mais límpida para regar as magnólias, tudo isso para que esse encontro possa ser o mais florido e perfumado.
É chegada então a hora de reunir num só jardim todas as magnólias, fazer com que elas floresçam como um primeiro raiar de sol, com que elas recebem não só o adubo e a água trazida pelos jardineiros, mas que elas realizem entre si a fotossíntese. É importantíssimo esse processo de fotossíntese para uma magnólia, saber receber de outra tudo aquilo de bom que ela possa te oferecer e retribuir. 
Agora retomando a minha respiração e com as expectativas controladas, tomo certo afastamento desse jardim, distancio o meu olhar e desloco meus pensamentos para o que estou vivendo naquele momento, apago qualquer resquício de prévio conhecimento dos calvininos e calvininas, passo uma borracha no que sei sobre o que foi preparado para aquele encontro e me delicio com as descobertas. 
O interessante é observar como os jardineiros caminham numa linha tênue entre o certo e o errado, digo isso, pois não se tem formulas prontas o que é usado sempre segue o inesperado. E nesse processo é construído um pensamento comum entre os jardineiros. (mas sobre essa construção e preparação do adubo e a busca da água pura que resultam na vivência, vou deixar para outro momento) 
O que me prende nesse texto é como as magnólias reagem a tudo que é exposto a elas, como essa vivência deixa de ser somente experimentada e transpassa o limite do lúdico e atinge o racional? Vejo que as magnólias estão mais abertas e dispostas, talvez seja o frescor da idade, fato é que elas brilham sem mesmo estarem postas ao sol. Existe muita energia dentro de cada uma e cada uma delas consegue receber e conceber de formas variaveis o que é derramado sobre elas. Existirá o aprofundamento? Não aquele onde os jardineiros direta ou indiretamente são responsaveis, questiono sobre o aprofundamento que cada uma das magnólias possam fazer sozinhas, um mergulho individual e coletivo, uma suspensão sobre o jardim e repensar sobre ele. Não é uma obrigação as suspensões, mas seria interssante poder ver as magnólias tomadas por um clima de desequilibrio fantástico. Mas afirmo que já não são somente sementinhas que encontramos a alguns meses atráz. 
Perdido nesse jardim de magnólias guardiãs de um imperador, invadido por embaixadores, esses seres se movem em direção ao desconhecido e tudo isso pode ser apenas uma passagem, um momento em que não se prende entre os abraços o corpo de nenhuma outra especie, mas fica impresso na pele tudo aquilo que nos é oferecido. E não há como negar que somos feitos da mesma matéria, estamos dispostos a nos arrircar. Magnólias, os jardineiros as convidam não só para o bom da vida e sim para tudo da vida. Não via nada, eram apenas magnólias... E agora como Marco Polo irá dançar entre elas?