segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um ensaio afastado

"O habito da escrita sempre foi algo inerente na minha existência, a poesia, subjetividade. O campo da arte foi onde minhas pernas aprenderam a ter firmeza, aprenderam a dar os primeiros passos rumo ao que era e ainda é desconhecido”.


Foi proposto a minha pessoa que escreve-se sobre o Projeto Calvino, as minhas observações e reflexões do trabalho que nos desafiamos a realizar. Foi me concedido o livre arbítrio de escrever da maneira que mais me conforta-se, que eu encontra-se procedimentos que fossem significativos as minhas reflexões a cerca do projeto. Diante do exposto propus a mim mesmo um ensaio afastado. Que mesmo submerso de todo conteúdo, toda a vivência que estou envolvido desde 2009, que eu me retira-se, desloca-se o meu olhar, que eu me suspende-se. Busco então uma tomada de distancia e refletir sobre o Projeto Calvino.
Antes de debruçar os meus pensamentos tenho duas perguntas a serem feitas: Porque a união dos grupos Teatro dos Orelhas e Teatro da Chuva nesse projeto? O que se afinam nesses dois coletivos de teatro para que juntos possam desenvolver um trabalho?   
Diante das duas perguntas penso no que seria mais plausível para justificalas? Qual aglomerado de palavras, quais construções de linguagens se aproximaria em respondê-las? Qual a forma se aproxima de nós? Buscando responder com outra pergunta. Confesso me encontrar sem respostas prontas.
Em uma das nossas reuniões pós vivência foi levantada a questão sobre de como iríamos aprofundar a qualidade de movimentos nos Calvininos (as). Quais seriam os procedimentos que pudessem afeta-los? A arte-educadora Débora expôs que uma das dificuldades encontradas por eles é o fato de nunca terem tido contato com o teatro, de que eles precisariam ter mais segurança e conhecimento no campo do teatro para poderem desenvolver os movimentos, que era preciso também mais confiança deles conosco. Sou partidário da mesma opinião que a Débora, a falta de contato com o teatro pode sim causar dificuldades em desenvolver supostas habilidades corpóreas, qualidade de movimento.  Mas logo salta uma pergunta: Se estamos propondo vivencias teatrais, aguardar um prévio “conhecimento teatral” não iria contra? Não estaríamos ai sendo contraditórios com o nosso discurso? Vejamos, lançamos que os Calvininos(as) são livres e estamos ali apenas para propor novas possibilidades de enxergar o que está ao seu redor, criamos procedimentos para que eles consigam alterar sua percepção, que eles sozinhos consigam ficar incomodados diante de um fato, com que eles consigam retirar esse fato do seu contexto atual e repensá-lo e ter uma outra possível percepção. Será que me fiz claro? Ou confundi a mim mesmo nesse último parágrafo. Este é resumo grosseiro da célula embrionária que rege o nosso projeto.  Durante a discussão o Luciano foi contra aos dizeres da Débora, afirmando que não devemos ter como critério a falta de experiência deles com o teatro, e que essa segurança não é base para desenvolver qualquer trabalho. Afirma isso dizendo que todos esses meninos e meninas vivem num tempo totalmente diferente do qual fomos criados. A era da tecnologia está quase que inserida no DNA deles, a capacidade de fazer mil coisas ao mesmo tempo os remete para outras concepções de mundo.
O Luciano afirmou ainda que seria capaz de jogar todo o seu conhecimento fora somente para compartilhar com eles esse tempo. Vou tentar ser um pouco mais claro sobre isso. Os meninos desse novo tempo são regidos pela rapidez, pela coisa momentânea os fatos acontecem todos ao mesmo tempo e eles conseguem se organizar sem problema nenhum. A pergunta então seria: Filhos do tempo da rapidez, de outra lógica social, seria usual impormos algum procedimento que nos serviu a mais dez anos atrás?

Nesse primeiro momento os conceitos ficam claros na mente, no campo imagético que esse conceito nos é permitido, porém existe uma dificuldade particular em transcrevê-los. As palavras nem sempre conseguem realmente expressar o que entendemos e o que buscamos com esse projeto. Imerso na tentativa de compreender o fantástico e conseguir reconhecê-lo é excitante. Excitante por estar diante de um desconhecido e sentir-se tão atraído. Eu só queria...

Julho/2010
            

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